As AYABASS, Vozes que precisamos ouivir!
Por:Rets e Jade Dias
“Nenhum outro som no ar pra que todo mundo
ouça
Eu agora vou cantar para todas as moças
Eu agora vou bater para todas as moças
Eu agora vou dançar para todas as moças
Para todas Ayabás, para todas elas”
Eu agora vou cantar para todas as moças
Eu agora vou bater para todas as moças
Eu agora vou dançar para todas as moças
Para todas Ayabás, para todas elas”
Foi ao som desta versão imersiva de
“As Ayabás” de Maria Bethânia que as instrumentistas e cantoras do projeto
AYABASS entraram no palco para começar o que foi o mais memorável show e melhor
surpresa do Festival Sangue novo no dia 26 de janeiro no porto de Salvador. O
espetáculo, que possui direção artística de Larissa Luz e produção musical de
Ênio, foi de longe a maior atração do festival, superando as expectativas (que
já estavam lá em cima por se tratar de um projeto que une Larissa Luz, Luedji
Luna e Xênia França, novos e potentes nomes da música baiana).
O projeto foi idealizado para
colocar em destaque a representatividade feminina negra na música baiana e
homenageou cantoras como Margareth Menezes, Mariene de Castro e Márcia short,
além de músicas do Ilê Ayê e da Timbalada. As canções autorais das três
artistas também foram executadas. “Pra que me chamas?” de Xênia frança; “Banho
de folhas” de Luedji Luna (numa versão com percussões com mais características
e levadas de pagode baiano); e “Meu
Sexo” de Larissa Luz sendo os destaques. A execução da canção “I’m a Survivor”
do grupo Destiny’s Child seguida de uma poderosa mensagem que pediu e ofereceu
força à toda mulher negra que estivesse ali e estivesse passando por um momento
difícil consagrou o clima de irmandade que acontecia no palco.
Um dos maiores momentos do show, contudo, foi o discurso de Larissa Luz
acompanhada por Luedji Luna e Xênia frança acerca da apropriação cultural e do
lugar de fala que ocorre principalmente na cidade de Salvador, espaço que
apresenta uma estratificação social que marginaliza a maioria da população
negra ao passo que celebra (e monetiza) elementos de sua cultura ancestral
mesmo sendo a cidade com maior população negra fora de África.
“A cor dessa cidade sou eu, e vamos ocupar os espaços que nos foram
relegados”, afirmou Larissa durante o show, “Querem a música negra, mas não
querem os pretos; querem a dança negra, mas não querem os pretos; querem o
cabelo dos negros, mas não querem os pretos. Está na hora de fazer concessões,
de parar de usar um lugar de fala que não é seu”. E completou: “preto de alma
não existe. Quem é preto é, quem não é, não é. A música preta é nossa!”, no que
foi complementada por Luedji Luna “Wakanda também é nossa!”.
A mensagem das AYABASS reafirma a música baiana como um grito de
expressão e resistência e ecoa num
momento importante da cidade de Salvador, no alto do seu verão mais visitado de
todos os tempos: a usurpação de lugares de fala, a apropriação de culturas e
tradições para pura exploração. Dentro dos acontecimentos no início do ano que
marcam, desde tentativas de apropriações culturais por grandes blocos da
indústria do carnaval, de festas tradicionais de bairros, até a realização de
festas de péssimo gosto com temática de Brasil Colonial escravocrata, a
mensagem das Nordestiny’s Child se propaga de forma impetuosa, tomando todo
ambiente, não deixando “nenhum outro som no ar, para que todo mundo ouça”.
O projeto foi confirmado no Carnaval de Salvador de 2019 onde sai no
bloco sem cordas “Respeita as mina!”, gerando novamente uma expectativa sobre o
show destas três potentes vozes negras baianas e nordestinas.
Confira o Setlist:
Intro Ayabás ( Maria
Bethânia)
Bonecas Pretas
(Larissa Luz)
Pra que me chamas
(Xênia França)
Banho de Folhas
(Luedji Luna)
Toté de Maiangá
(Margareth Menezes)
Tonelada de desejo
(Timbalada)
Crença e Fé (Banda
Mel)
I’m a Survivor
(Destiny’s Child)
Meu Sexo (Larissa
Luz)
Preta Yaya (Xênia
França)
Um Corpo no Mundo
(Luedji Luna)
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